terça-feira, dezembro 11, 2007

Festa e Idéias



Convido a todos para o Festa e Idéias.
Uma festa performática, um sarau, um espaço aberto de encontros e parcerias entre artistas, ativistas e movimentos sociais: Kiwi Companhia de Teatro, Coletivo Epidemia, Movimento Ecologia Urbana, Centro Cultural Popular da Consolação, Editora Toró, escritores e poetas periféricos, ong Religare, roda de samba, grafiti com Thiago Vaz, instalações interativas no frigorífico, dj Julião, vj Gavin Adams, projeção, improviso musical, performance na cozinha, mágica e o que mais vier.

Rua da Consolação 1901 - Centro Cultural Popular da Consolação (CCPC)
14 de dezembro (sexta-feira)
à partir das 21h




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Ahh, se está pensando num "esquenta", no mesmo dia 14 (sexta-feira agora) tem lançamento do Cadernos Negros, contos afro-brasileiros, coletânia de contos de vários autores, incluindo Sacolinha, Elizandra Souza, Allan da Rosa, entre outros.
Terá apresentaçãoes artísticas da Cia. Koteban e performance com Akins Kinte e Mc Rafão.
Sesc Paulista
Av. Paulista 119 (metrô brigadeiro)
a partir das 19h30

terça-feira, dezembro 04, 2007

Encontro de Compositores




Sábado 8 de dezembro das 19h30 às 22h na Fábrica de Criatividade
Com a participação especial (em vídeo) de Nelson Cavaquinho!
Nelson Cavaquinho documentário curta-metragem em preto e branco e 35mm sobre o sambista, desconcerta. Captado em 1969 pela lente de Leon Hirszman, um Nelson Cavaquinho de 59 anos de idade é flagrado divagando suas impressões sobre a música e a vida em sua casa no dia-a-dia tranqüilo de Bangu, caminhando pela vizinhança simples e, principalmente, cantando com sua embargada voz, o indefectível dedilhar debochado de seu violão (tão irresistível de se imitar, para quem é violonista) e um olhar comovente que consolida de vez o caráter comovente de sua poesia popular.
O Encontro de Compositores é um sarau de música autoral e vem incentivando a produção independente de música popular brasileira na periferia de São Paulo, conta com a participação não só de compositores, mas de músicos em geral, além de poetas, escritores e apreciadores mil numa comunhão que devora arte.
Fábrica de Criatividade
Rua Luís da Fonseca Galvão, 248 - Parque Maria Helena a 100m do Metrô Capão Redondo
Fone: 5511-0055

Realização
Secretaria Municipal de Cultura
Programa VAI
Encontro de Compositores
CineBecos
Fábrica de Criatividade


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Gunnar Vargas
http://osmameluco.blogspot.com
http://encontrodecompositores.blogspot.com

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Rogério Pixote
www.becosevielaszs.blogspot.com

quarta-feira, novembro 14, 2007

Sarau Griots


Dia 19 de Novembro, véspera do dia da Consciência Negra, acontece mais um Sarau Griots. Exibição do Filme:


VAGUEI NOS LIVROS E ME SUJEI COM A M... TODA.

(Akins Kinte, Alan da Rosa e Mateus Subverso)
Aborda a ausência de personagens e autores negros na literatura transmitida nas escolas. Enfoca história literária negra mundial; ciências africanas; Hip-Hop como parceiro da leitura e literatura periférica paulistana.

É tudo nosso!

POESIA - TEATRO - MÚSICA - RESISTÊNCIA
SALVE ZUMBI DOS PALMARES !
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Se liga:
19 de Novembro
das 19h30 às 23h00
Bar Filosofia
(Rua Angelo Stefanini, 12 - Jd das Oliveiras - Itaim Paulista)

GRATUITO

sexta-feira, novembro 09, 2007

Pão e Circo

Não quero o digerível semi-pronto
ou o pronto em três minutos.
Quero o orgânico preparado
com tempo e temperinhos
sem aditivos fast-food
mercadolizador e conservador.
Não gosto de conservas.
Quero o ato e o manifesto
juntos como irmãos camaradas.
Quero a liberdade cultural
em feiras livres a cada esquina
Prefiro o sujinho natural
ao esterelizado plural.

Não quero pão, quero salada com mistura de grãos.
Não quero circo, odeio palhaços,
quero a diversão das palavras conscientes
Quero o bolo,
o sanduíche do boteco,
a folia dos bêbados.
Quero o livre,
Sem pizzas pré-cozidas
ou enlatados com cara de bonitinhos.

Quero um livro de receitas aberto
e uma cachacinha caseira pra acompanhar.



[Disponível também em Literar.org]

segunda-feira, outubro 29, 2007

A arte de desenhar

Quando eu era criança eu desenhava estórias de príncipes e princesas, pais e filhos, fazendas e casas, enfim, tudo o que povoava a minha imaginação. Desenhava com qualquer coisa que tinha nas mãos, e isso deixava minha mãe louquinha da vida comigo. Era o meu modo de fazer o mundo. Crianças são boas em mudar o mundo.

Daí virei adolescente, e não queria mais mudar o mundo, queria que o mundo mudasse por mim. E como todos os adolescentes pensam que são donos do universo, foi um tanto frustrante saber que nada ia mudar pelo meu simples desejo. Adolescentes sofrem com isso, e justamente por isso são péssimos em manter as ferramentas simples para fazer algo realmente extraordinário.

E então finalmente virei gente, cresci, arranjei empregos, trabalhos, responsabilidades, números, currículo, contas bancárias, aluguel, o maldito PIS, CPMF, INSS, SUS, e todas as siglas para o suicídio mental de todas as coisas que realmente importam. É minha gente, é difícil ser criança no mundo de gente grande.

Mas um desses dias quentes e abafados, quase como os dias de morte lenta e suculenta, eu decidi voltar a desenhar. Mas dessa vez foi diferente, não desenhei no papel, desenhei no escuro entre a fumaça que soltava do cigarro com o vapor do meu café. Desenhei mundos infinitos com enredos espetaculares. E tudo nascia e morria no ar. O invisível é tão mais rico e tão mais simples que a rotina de gente grande. Minhas espirais de fumaça eram vivas e tinham sua própria vontade, por mais que eu tentasse molda-las, elas seguiam o rumo que queriam, mas eu ainda mudava o desenho fazendo mais espirais quase invisíveis. Eu ri. As pessoas podiam rir bem mais se pudessem ver o que os olhos não conseguem definir.

E continuei desenhando novas formas com farelo de pão e macarrão, desenhei desertos imensos com a farofa e o mar da feijoada, desenhei rios com as minhas próprias lágrimas e finalmente consegui desenhar um riso na janela ao amanhecer. É bom quando se consegue desenhar a felicidade, mesmo que em doses pequenas.

Não perdi meus desenhos, eles vivem por aí, rodopiando e dançando pelos ventos e sussurros. Agora inventei de desenhar com as palavras, mas essas sim são traiçoeiras, elas gostam de fingir que estão paradas só pra gente pensar que elas são frágeis, até o momento que elas arrancam seu coração e destroem sua alma. Ainda estou aprendendo a desenhar com as palavras, portanto, me perdoem se por vezes elas são mal-educadas. Ainda estou tentando ensina-las a se portar como as minhas espirais de fumaça.

Educadinhas sim, prisioneiras jamais.


[disponível também em literar.org]

segunda-feira, outubro 15, 2007

Vítor

Vítor, do latim significa vencedor.





é...tia babona dá nisso...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Rumo ao céu

Saiu de casa sem intenção de sair. Não tomou o habitual café, nem trocou as meias sujas. Saiu sem rumo, sem olhar para trás e sem cigarros. Caía um véu leve de chuva sem gosto e uma brisa de olhar sem ver. Saiu sem destino e sem coração.

Atravessou ruas em passos retos e olhava ao redor como quem pedia ajuda em vão. Sabia que chorava, pois a água que caía nos lábios era salgada e triste. Saiu sem propósito nem alma.
Era um desses dias de desalento moroso, uma culpa latente e dissoluta. Quaisquer palavras eram de desconsolo e perturbação. No entanto, seus pés dançavam, se moviam lentamente em passo de bolero orquestrado sem maestro ou música. Dançava com os pés e morria com a chuva. Queria muito, pedia pouco. Amava demais e era amado de menos. Estômago oco e ácido. Não tomou café nem respirou alívio. Saiu sem dizer adeus nem eu te amo.

Não tinha pressa de chegar a lugar algum, mas tinha ânsia de chegar no momento certo. Corria apenas o tempo. Chovia então uma chuva de medo e remorso. Sorria com os pés e morria com os olhos. Saiu sem documentos, mas levava consigo uma aliança vazia entre os dedos. Perdido, chegou ao seu destino. Parou, respirou profundamente, fechou os olhos e buscou a Deus num último suspiro. Num último passo de tango argentino se jogou do viaduto cinza, como numa cascata de esperança remota. Deixou-se flutuar sem medo ou turbulência. Deixou dois filhos bastardos e o corpo de uma linda mulher numa cama fria com duas meias aquecendo o pescoço nu. Morreu sem trocar as meias.





[disponível em literar.org]

quarta-feira, setembro 26, 2007

Fala Mestre!










Ação Educativa e Observatório da Educação convidam para o Debate Desafios da Conjuntura
“Fala Mestre! Fala Mestra! O silêncio do professorado na educação”

A Educação vem ganhando espaço no debate público. A mídia reproduz opiniões e análises de governantes, empresários, pesquisadores, artistas, jornalistas... todos falam sobre o tema. Ou, quase todos: constata-se que falta a voz dos professores nesta conversa. Por que isto acontece? Quais as razões para o silêncio dos professores sobre educação? Este é o tema de mais uma edição da série Desafios da Conjuntura, participe!

Convidados:
Dalmo Dallari (Jurista)
Carlos Ramiro de Castro (presidente da Apeoesp)
Fabio Mazzitelli (repórter Diário de S. Paulo)
José Luiz Feijó Nunes (professor rede pública estadual de educação)

Data: 9 de outubro de 2007 às 9h30
Local: Auditório da Ação Educativa
Rua General Jardim, 660 – Vila Buarque - São Paulo
(próximo à estação Santa Cecília do Metrô)

Inscrições: observatorio@acaoeducativa.org
F: 11 3151-2333 ramal 175, com Elizabete

Parceria:
Artigo 19

Apoio Institucional:
EED

Apoio:
Save The Children
Fundação Ford
Avina

quarta-feira, setembro 19, 2007

Festa de Lançamento







Car@s,

É com alegria que convidamos a todos para a festa de lançamento do evento "Cultura e conhecimento livres: disputas, práticas e idéias".

A entrada é livre, gratuita e bem-vinda!

Performances, dj, vj, comes e bebes, grafite, rap, cordel com repente e o microfone aberto pra quem quiser participar.




Dia 21 de setembro (sexta-feira), das 19h às 23.30h.

Na Ação Educativa - rua General Jardim 660, Vila Buarque (próximo ao metrô Sta. Cecília).

Ação Educativa

Epidemia

domingo, setembro 09, 2007

Pegue e passe pra frente!

Pegue e passe pra frente!

Esse texto foi escrito pelo Fernando Kinas para a apresentação do projeto do Epidemia com parceria da Ação Educativa, e representa o coletivo Epidemia do qual eu faço parte...

Pegue e passe pra frente!


Hoje a questão a responder é a seguinte: porque nós estamos aqui, o coletivo Epidemia, com a Ação Educativa, com dezenas de artistas, ativistas, gente do centro e da periferia, gente da ação e gente da reflexão? Este texto tenta responder a questão.

O Epidemia surgiu há dois anos, mas o nome só veio mais tarde, para discutir o atual sistema de propriedade intelectual e encontrar alternativas aos modelos hegemônicos de direito autoral e de patentes. Nosso objetivo principal pode ser resumido assim: desmercantilizar a cultura e o conhecimento. Nosso horizonte: uma sociedade não capitalista, com livre acesso aos saberes e aos prazeres.

Mas vamos começar com duas historinhas. Há poucos dias um grande jornal publicou matéria mostrando quem fica editando as definições da wikipédia, aquela enciclopédia na internet construída em ação colaborativa por milhões de pessoas. E o que se descobriu? Que o Vaticano mexe nos textos sobre os santos, tentando melhorar eles na fita. Que a CIA mexe na biografia dos seus desafetos políticos. E também que a Ford, a Helliburton (a empresa que foi ganhar dinheiro no Iraque invadido), a Pepsi e outras corporações apagam o que não interessa pra eles. “O que é ruim a gente esconde” já disse um tucano de triste memória.

Segunda historinha: tem um mundo de gente baixando coisas pela internet, inclusive livros, e sabe quem são os campeões?, os livros mais baixados? Harry Potter e a Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem da Fênix, Harry Potter e o Enigma do Príncipe, Harry Potter e as Relíquias da Morte…

Moral provisória destas duas historinhas: não adianta ter instrumentos de produção e circulação de informação, de compartilhamento de idéias, de troca de conhecimento, se a gente não sabe o que quer da vida, se a gente for papagaio, miquinho amestrado, colonizado crônico. Não adianta baixar música de graça pra ficar ouvindo Sandy e Júnior.

É por isso que nós estamos aqui hoje. Porque cultura e conhecimentos têm que ser livres e de qualidade. Nós vivemos vinte anos de ditadura militar. Sem falar de outras ditaduras, como a da economia (não custa lembrar que a economia faz parte da sociedade e não vice-versa!) E tem ainda outra ditadura, a da globalização, que por estas bandas significa aceitar o lixo e calar a boca. Então, é preciso aprender a ser livre.

Por isso nós estamos propondo um projeto, que vai acontecer na periferia de São Paulo e em Fortaleza. E este projeto tem que ser daqueles que pensam a cultura e daqueles que fazem a cultura. E mais, o projeto deve ajudar aqueles que fazem arte e cultura a pensar a arte e a cultura, e aqueles que pensam, a exercitar. A política, mesmo a política de esquerda, do jeito que está, mais desagrega do que junta, mais congela do que esquenta.

E ainda tem mais, esse projeto é um grande pretexto, pretexto pra fazer o futuro e não ficar esperando. E o futuro é maior do que seis dias de encontros. Mas sem parceiros não vai pra frente. Então, cada festa, cada oficina, cada encontro ou reunião é também um convite. Convite sem receio, convite pra somar, pra fazer junto. Chega de lembrar só o que nos separa, e nós nos sabemos diferentes, mas também iguais em muita coisa.

Os quarenta livros da Cooperifa e da Toró, os grafites gravando outra história na cara da cidade, os cd’s de rap (esses “livros sonoros da periferia”) que não são produtos com verniz, como o das grandes gravadoras (sacos vazios que não param em pé porque não tem nada dentro), a dança negra/dança ancestral, o teatro que recusa a forma-mercadoria, o vídeo e o cinema que não copiam roliúde, a Semana de Artes Moderna da Periferia. Tudo isso, e muita força, muita dignidade, muita beleza, que as vezes se veste de ira, de porrada bem dada no boca do estômago, tudo isso e ainda o que está surgindo nestes dias que são virgens, que são, quem sabe, imunes ao velho, imunes à prudência medrosa e imunes à opressão e ao cinismo, e prenhes de ousadia e alegria. Tudo isso está na ordem do dia, ou seja, já está debaixo do nosso nariz e ao mesmo tempo precisa ser inventado a cada instante, em todo lugar, em casa, no bar, no trabalho, na reunião, no sarau, no futebol, na escola, na rua.

Cada celular travado que só funciona numa operadora, cada cópia de livro que deixa de ser feita, cada remédio que custa o olho da cara, cada semente patenteada, cada filme que não vai pra sala de cinema, significa propriedade resguardada e acesso negado, significa privatização do conhecimento e da cultura. Nós queremos outra coisa, por isso nós nos chamamos epidemia. Na epidemia a lei é: pegue e passe pra frente. Pegue, use, mude, copie, transforme, subverta, e passe pra frente. Porque o tempo é agora, porque tem que ter pra todos, porque quem espera nunca alcança, porque é tudo nosso!

Força!

Coletivo Epidemia

sexta-feira, agosto 24, 2007

Sarau da coperifa

"está começando a revolução cultural"
Walter Limonada

Sim, na última quarta-feira eu presenciei o melhor e mais animado sarau que eu já vi na vida! No bar do Zé Batidão, cujo endereço eu não me lembro, aconteceu o sarau da coperifa e conheci a inveja de perto.

Minha inveja, ok? Inveja de querer escrever com a mesma paixão daquelas pessoas, e com a mesma qualidade. A criatividade e a qualidade foram impressionantes. Algumas questões políticas outras de cunho pessoal, nada ali era medíocre, nada.

Todos recitavam suas próprias criações, todos mesclando o silêncio como oração e as palmas como modo de exorcismo febril. Não parecia um sarau, na verdade, parecia um espetáculo de genialidade, alegria e acima de tudo, diversão.

Regada a cerveja e um escondidinho sublime, foi realmente um orgásmo literário. Sem conservadorismo nem falso moralismo. Sim, tudo sem proteção burguesinha de arte periférica. Muito bom não, maravilhoso!!!

quarta-feira, julho 18, 2007

Em busca da batida perfeita

Parafraseando Marcelo D2...

Em meu trabalho sobre produção artística e práticas colaborativas apresentei um questionário, assim como quem não quer nada para alguns amigos djs. O que me chamou a atenção é que os poucos que sabiam o que era o copyleft e creative commons me responderam que se fossem eles os artistas não adeririam a essa prática.

A resposta foi que eles deixariam de ganhar sobre suas obras se fosse permitida a distribuição livre (entendam, disse distribuição, não disse comercialização). O que me intrigou foi que eram artistas que conseguiram seu lugar ao sol justamente por causa do aspecto de disseminação livre na rede. Porque agora isso? Agora que conseguiram seus contratos com gravadoras estariam livres dos reles mortais que passam noites redistribuindo música?

Ao começarem com seus trabalhos, eles usavam músicas protegidas por copyright. Nada contra, afinal, a profissão de Dj exige isso. Mas ao definirem que não licenciariam suas músicas para livre distribuição, isso não é cuspir no prato que comeram? Será que o ego é mais alto que a cultura geral e o cheque no final do mês falam mais alto do que todos os preceitos que os ergueram onde estão hoje?

O argumento usado como resposta foi que se eles usassem o que já existe em creative commons seria algo pobre, pois (segundo eles) não existe um banco com samples de qualidade sob essa licença. Não seria então lógico aumentar esse banco? Colaborar? Pq é mais fácil para eles criar em cima de copyright?

Não é fácil de adivinhar? Eles têm contrato com gravadora, shows agendados e uma nobre multidão de adeptos ao redor do mundo.

O rato não morreu de ignorância, morreu de hipocrisia.

sexta-feira, julho 13, 2007

Bolinho de chuva

Faço das palavras um bolo,
não de aniversário, cheio de enfeites e confeitos,
mas bolinhos de chuva,
salpicados com açúcar de confeiteiro
e uma boa xícara de café numa tarde serena
para acordar.

terça-feira, julho 10, 2007

Um olhar sobre o amor

Amar não é um objeto ou pessoa.
Não é um anel ou colar.
Não é contas pagas ou nome no testamento.
Amar não é virtude ou culpa.
Amar é dormir e acordar, dentro e fora de um sonho.
Amar é pijama e leite condensado.
Amar é sofá e viagem.
Amar é velar o sono com ternura.
Amar é saber os desejos e necessidades de um olhar.
Amar é ser feliz por um momento inesquecível.
Mesmo que seja o olhar cansado do outro se fechando de sono.
Amar é dar o mundo.
Amar é receber de braços abertos a melancolia de perder esse amor.
Mesmo que num futuro distante ou nem tanto assim.
Amar é guardar dentro de si a saudade de quem ainda não se foi.
Amar é brincar de ser bobo.
Amar é recompensa, nunca a provação.
Amar é gostar de rir pra dentro.

Deve-se amar como quem ama um gatinho brincando com novelo de linha.

domingo, junho 17, 2007

gafes jornalísticas

Certo, recebi isso, como jornalista me senti ofendida, como leitora eu ri horrores:

"A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a
cada ano."
- Jornal do Brasil

"Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente."
- O GLOBO

"Os sete artistas compõem um trio de talento."
- EXTRA

"A vítima foi estrangulada a golpes de facão."
- O DIA

"Os nossos leitores nos desculparão por esse erro indesculpável."
- O GLOBO

"No corredor do hospital psiquiátrico os doentes corriam como loucos..."
- O DIA

"Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva."
-JORNAL DO BRASIL

"Parece que ela foi morta pelo seu assassino."
-EXTRA

"Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça."
- O DIA

"O acidente foi no triste e célebre Retângulo das Bermudas."
- EXTRA

"O tribunal, após breve deliberação, foi condenado a um mês de prisão."
- O DIA.

"O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou."
- O DIA

"A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço."
- EXTRA

"Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes."
- JORNAL DO BRASIL

"Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens."
- O GLOBO

"O aumento do desemprego foi de 0% em novembro."
- O IMPARCIAL

"O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos."
- JORNAL DA TARDE

"Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio."
- FOLHA DE SÃO PAULO

"Na chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel."
- O DIA

"O cadáver foi encontrado morto dentro do carro."
- DIÁRIO POPULAR

"Prefeito de interior vai dormir bem, e acorda morto."
- O IMPARCIAL

sexta-feira, junho 15, 2007

Meu mundo

Gostaria de lhes apresentar o meu mundo. Um mundo não tão diferente do seu. Apenas com peculiaridades que não existem no seu modo de ver as coisas. No meu mundo as pessoas não falam, elas transmitem. No meu mundo não há olhos, há absorção. No meu mundo os cãezinhos são reis e os homens escravos. Nada no meu mundo é cinza, tudo é preto e branco.

Se o coração se quebra, luzes de emergência saltam dos olhos. Se a alma se inunda de alegria os lábios se tornam vírus e se propagam por aí. Se a saudade ou o tédio é grande, o dia é curto, se uma pessao está contagiada com felicidade o dia demora pra passar.

No meu mundo as coisas são relativamente simples. As pessoas que complicam são ignoradas e mantidas numa caixinha fosca do lado das contas a pagar. Sempre acessível mas nunca imprescindível. Pessoas com sonhos transitam mais pelo meu mundo.

Quando chove, a chuva é cascata de novos sonhos, quando faz sol a luz é fonte de novas metáforas boas pra digestão. Quando venta, o ar é responsável pela propagação da música. Quanto anoitece, a escuridão é fonte de amores eternos.

O trânsito é meio de enrolar no caminho. A solidão é solução pra sonhar mais. No meu mundo, a jaca nasce no chão e a cegonha não traz bebês, mas sim almas. (Bebês são feitos com sexo, mas a alma de sonhador vem apenas com a cegonha).

No meu mundo, a tristeza não é algo ruim, é apenas uma pedrinha no sapato. Basta descalçar e jogar fora. No meu mundo, você não está lendo este texto, você está reescrevendo-o com idéias. No meu mundo, eu não sou rainha, mas também não sou escrava. Aqui, não troco meu reino por um cavalo, aliás não troco por nada fora do meu infinito alcance.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao meu mundo. O único lugar do seu mundo em que não escrevo palavras, mas forneço vida ao silício.









[este texto foi publicado originalmente em literar.org e está sob essa licença de creative commmons: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt]

quinta-feira, junho 14, 2007

Banalização da liberdade na Internet

Creio que alguns de vcs já tenham ouvido falar do projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Aos que ainda não ouviram eis uma explicação simplificada do projeto arbitrário do senador:
O projeto da Lei Digital propõe "tipificar condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, de rede de computadores, ou que sejam praticadas contra rede de computadores, dispositivos de comunicação ou sistemas informatizados e similares", ou seja, propõe uma série de alterações (chamadas tipificações penais) em artigos do Código Penal e de outros códigos e atos normativos para combater os crimes praticados com a ajuda da informática e na Internet. Apesar da ênfase que a divulgação do projeto dá às tipificações de crimes como o roubo de senhas, a difusão de vírus, a falsificação de celular e de cartão de crédito, a Lei Digital cria formas de controle no acesso às informações que afetam a vida de todas as pessoas. Por exemplo, a Lei Digital dá amparo legal para que profissionais ou empresas de segurança da informação façam a interceptação de dados ou mesmo invadam outras redes em nome da legítima defesa. Além disso, os provedores de internet seriam obrigados a armazenar os dados de usuárias/os (os chamados logs, que identificam o usuário/a e seu histórico de navegação), disponibilizar estes dados às autoridades quando houver ordem judicial, além de denunciar à polícia indícios de crimes praticados pelos usuários/as, fazendo dos provedores uma espécie de polícia. Veja um trecho do que é considerado crime:

Art. 154-A. Acessar rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem, permite, facilita ou fornece a terceiro meio não autorizado de acesso a rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado.
§ 2º Somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos, agências, fundações, autarquias, empresas públicas ou sociedade de economia mista e suas subsidiárias.
§ 3º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se vale de nome falso ou da utilização de identidade de terceiros para a prática de acesso.
§ 4º Não há crime quando o agente acessa a título de defesa digital, excetuado o desvio de finalidade ou o excesso.


Ou seja, o projeto claramente delimita a liberdade e exclui o anonimato, exigindo uma autorização para usufruir da rede. Criaria uma situação de caos fascista sobre cidadãos comuns. Porquê? Porque geraria uma necessidade de vigilância sobre todos os pacotes da rede, caso contrário qualquer pessoa imune ao processo poderia ser tipificada como criminoso.

O que não se fala no projeto é que o mesmo contribui para, por exemplo, paralisar pacotes de voz sobre ip, invadir os computadores das pessoas com mecanismos de DRM, barrar a liberdade de navegação das pessoas com bloqueios indevidos de rede, identificar os internautas, sem sua autorização, para vigiá-lo e conhecer suas práticas de navegação na rede, invadir a caixa de e-mails alheios, etc. Tudo garantido como legítima defesa.

A grande questão acerca disso tudo é que a rede sempre foi baseada em três pontos básicos: liberdade, anonimato e troca. O projeto do senador tipifica como crime dois desses pontos e possibilita o fim do terceiro. Não sei como é viver em um regime autoritário. Sou jovem demais pra conhecer na pele esse sistema no Brasil. Mas por tudo que sei, definitivamente não quero perder a minha liberdade. Não sou terrorista por baixar mp3. Não sou vilã por ser anônima. Não sou perigosa por poder escolher quais sites vou visitar. E vc?


Aqui está o link para a petição ao senado federal pela transparência do projeto.

http://www.safernet.org.br/petitioner/projeto_lei_azeredo/index.html

terça-feira, maio 29, 2007

Belo, belo

Sabe quando o coração seca? Não como o coração gelado dos ursinhos carinhosos, mas como a poesia parnasiana. É assim que eu me sinto. Não sinto saudades de forma alguma do passado, posso sentir falta de pessoas, mas não de situações.

Sabe do que realmente sinto falta? De longas conversas regadas a cigarro e minha estimada garrafinha d’água. De sentir a barriguinha quentinha da minha poodle embaixo do meu braço na cama e do focinho dela na minha mão quando dorme. Sinto falta das risadas desesperadas e das lágrimas exageradas. Sinto falta da espontaneidade dos amigos.

São coisas simples, às vezes passam e não voltam mais, às vezes continuam lá pra sempre, a questão agora é que estou longe de tudo isso por vontade própria e ainda não compreendi a falta que tudo isso realmente faz.

Posso lutar enormes guerras, posso honrar todo o meu passado acadêmico, posso, inclusive, me tornar militante de algo realmente importante para humanidade, mas no final do dia não tenho nada do que realmente importa pra mim. Nunca foi tão real pra mim quanto agora:

“Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.

— Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.” (Bandeira).

sábado, maio 26, 2007

Senhor, dai-me paciência.

A paciência é uma única dose de rum numa noite de frio. Doce, rasga o peito e aquece o corpo. Difícil é saber a hora de recorrer a essa dose mínima.

Ninguém vê uma pessoa lutando para ser calmo. Lutando para não ser um animal. O único vislumbre está nos olhos. Quando os sentidos se apagam, o vermelho-sangue tinge a visão, o revés no estômago, é nesse momento a hora de tomar sua dose? Ou seria melhor deixar isso tudo e regar-se de pequenas doses o dia todo e a toda hora? Desequilibrado ou alcólatra?

A dose está por aí, inesgotável e serena. Sempre à espera de um porre qualquer. Um porre de paciência e de mil motivos para não ser. A paciência não é uma virtude budista, é uma bebedeira que acalma e não nos deixa cair no furacão. É sujeira que se esconde embaixo do tapete.

Qual a dose certa? Qual o momento de bebericar o doce néctar da civilidade? Quando se deve negar a si mesmo o famoso "vai tomar no cu e acorda!"?

Senhor, dai-me paciência que meu rum acabou.

terça-feira, maio 22, 2007

Qual o preço da rapadura?

Ouvi dizer que o excelentíssimo senador Antônio Carlos Magalhães considera insignificante a corrupção por R$ 20 mil. Este sim sabe o que diz. Aos pequenos migalhas da pobreza de espírito, aos grandes a grandiosidade dos impérios.

Pe. Antônio Vieira já dizia, roubar em uma barca faz um bom ladrão, roubar uma armada se faz um Alexandre. E aonde estão os Alexandres? Pouparam-nos de ver a grandiosidade dos coroados? Ou acabaram-se as glórias?

Que falta de grandiosidade guardar papel moeda em cuecas! Que falta de criatividade usar a Deus e Alá como arma de latrocínio! Quantos e quantos casos de ganância fútil se alastram por aí todos os dias?

Certo senador, a insignificância dos ladrões pequenos são como pulgas no sistema moral da nossa sociedade. E os grandes? Ah, sim, não existem mais os tais Alexandres. Nem mesmo em processo secreto, pois bilhões em dólares em qualquer conta do exterior não traz glórias ao indivíduo. Se tornou algo comum na nossa política de bom Estado laico.

Suponho que se for verdade o caso do deputado federal Paulo Magalhães, o senhor senador deve realmente estar com vergonha. Não pelo fato de ter um sobrinho corrupto, mas por ter um sobrinho que se vendeu por tão pouco.

É, a rapadura é doce, mas não é mole.

sexta-feira, maio 18, 2007

Contra o aumento do cigarro

Sou politicamente contra o aumento do cigarro. Sim, leitor eu fumo. Sim, amigo, eu sei que vou morrer. Mas a questão nem é essa.

Sou contra a armação ideológica (sim, ideológica) dos não-fumantes contra nós. Nem vou mencionar todos os argumentos simples mas já cansados de se repetir pelas bocas nicotinadas por aí. Sou contra dizerem aumentar impostos do cigarro para desestimular o consumo. Queridos, quem fuma não pára pq o preço aumentou, fuma outro de qualidade inferior e mais barato. Não é assim quando aumentam o arroz?
Sou contra o rombo nos cofres públicos e ter que pagar mais uma vez pela real incompetência ou bandidagem alheia. Tanto dos governantes como da população que nada faz.

Sou infinitamente contra fazer tudo isso com a simples fala de que é para nosso bem. Quer diminuir o cancêr de pulmão? Desestimulem a emissão de gases industriais na atmosfera. Tão mais eficaz. Bem mais problemático, eu sei. Enfim, vim apenas dizer que minhas moedas acabaram e eu realmente preciso dum cigarro com um café gelado.

segunda-feira, abril 23, 2007

óculos para ver

Sabe quando você acorda brincando com os pés nos lençóis? Sente um cheirinho de café recém-passado e um leve vento sobre as faces? Levanta descabelada e amassada, mas se sente linda por dentro? Arruma um roupão velho e caminha até a outra extremidade da casa recordando um sonho bom? Vê então na janela um sol lindo com um céu lindo por trás da cortina? Isso se traduz em felicidade. Só um cego de Sarmago não saberia apreciar. Pois é, preciso de óculos

domingo, março 18, 2007

Com amor, Mona

Eu conheço bem as ruas da cidade. Já andei por muitos lugares. Nunca encontrei um lugar em que realmente pudesse me sentir em casa. Aliás, eu tinha uma casa, o mais próximo do que se pode chamar de lar. Mona cuidava de mim. Não era bonita, mas satisfazia bem as minhas necessidades. Costumava acordar cedo e ela pegava o jornal para mim. Limpava, cozinhava, fazia o almoço, assistia à televisão, e vez ou outra saía para o salão de beleza. No fundo eu acho que ela jamais seria linda, e mesmo assim mantinha sempre as mãos bem cuidadas. Acho que ela considerava as mãos a única parte do corpo sexy; por isso sempre as mantinha impecáveis.

Um dia eu me cansei. Saí de casa. Não sei se Mona chorou por minha causa. Ela sabia que nossa relação não era eterna. Tínhamos uma bela diferença de idade. Trinta anos. Eu ainda era jovem, precisava viver um pouco. Não podia passar o resto da minha existência preso em uma vida medíocre como aquela.

Em um certo momento, confesso, pensei em voltar. E voltei. Encontrei Mona saindo de um café com um sujeitozinho magrelo e sem graça. Percebi que nunca mais teria o coração dela. Dei meia volta e fui embora, ela não me viu. Se viu, não tentou falar comigo. Não saí particularmente magoado. Apenas frustrado. Foram dois anos morando na mesma casa. Paixão à primeira vista. Ela cuidava de mim como se cuida de uma jóia. Mas de qualquer forma e não sei por qual razão eu não queria mais ser apenas um desfrute daquela mulher. Dava o que ela queria e ela cuidava de mim. Nada mais. Nada menos. Partilhávamos coisas lindas. Passeios singelos no parque, andávamos quarteirões em volta de nossa casa, íamos sempre juntos nas feiras de artesanato que ela sempre gostava. Frustrado porque achei que ela não me substituiria tão rápido. Apenas isso que eu senti. Se ainda assim, meus leitores, vocês acharem que sou um mau caráter, não posso fazer nada para que mudem de idéia.

Isso aconteceu há muito tempo. Estou velho. Tive filhos. Filhos que nunca me conheceram. Nem eu me lembro do rosto deles. Me disseram outro dia que um dos meus bebês já estava crescido. Morava numa bela casa em frente ao parque que sempre ia com Mona. Meu filho...Eddie. Esse era o nome dele. Ele sempre andava pra lá e pra cá com sua longa juba loira ao vento. Dizem as más línguas que ele era rebelde que nem o pai. Como eu...Pra ser sincero não me lembro da mãe dele. Apenas de uma única noite que estivemos juntos. Não importa mais...Dos outros filhos que tive nunca mais vi ou ouvi falar de nenhum deles.

Meus ossos doem como se fossem partes de nervos que são constantemente cutucados com um espeto. Virei um mendigo. Passo o dia revirando lixo em busca de comida. Algumas pessoas se compadecem e me dão o que comer. Não são raras essas pessoas gentis na minha vida. Ás vezes acho que meu único pecado e erro foi nunca ter dado o verdadeiro valor a essas pessoas. Sempre dispostas a ajudar sem pedir nada em troca. Mas já é tarde demais. Ano passado soube que Mona se casara. E ela ainda estava com o magricela sem graça que vi outro dia. Ela teve um filho. Ela tem uma família. Eu nunca cheguei a ter uma família. Meu pai morreu cedo e minha mãe era uma cadela sebenta. Me teve na rua e da mesma forma me abandonou. Sem pensar ou sentir. Se tive irmãos nunca soube.

Estou deitado na calçada juntando as lembranças que tenho dessa vida. Não me arrependo de muitas coisas. Mona. Ela é a única pessoa que me entristece. Tão carinhosa. Tão afetuosa. Ela tem o que sempre mereceu. Um lar. Nem isso eu tenho. E a única coisa que nunca pude dar a ela. Sofro um pouco com isso. Mas não muito. O caminhão de lixo passa pela minha frente arrancando os restos das vidas das pessoas. Bem que eles podiam levar essa dor. Estou cansado. Velho. Sujo. Feio. Estou pronto pra morrer. Lá vem outro caminhão. Quero dormir e nunca mais acordar. Só isso. Tudo isso.

O caminhão de gás passa e tenta desviar de mim. Não consegue. Morro, enfim, com o rabo entre as pernas.

Nota divulgada no jornal da manhã: Acidente com caminhão de gás fere motorista e causa incêndio. Não houve mortos ou feridos. A polícia acredita que o motorista tentou desviar de um cachorro de rua, mas não conseguiu. Foi achado a carcaça do animal e um pingente de ouro escrito: "com amor, Mona".

quinta-feira, março 15, 2007

Desabafo

É engraçado como certas coisas tomam seu rumo. Tinha me esquecido de como as coisas são. Engraçado também como uma mariposa sofre pra nascer, acredito que todos nós seres vivos também sofremos pra isso. Mas ninguém disse que o sofrimento acaba. Em verdade nunca termina.

Eu já vivi muitos coisas, chorei muitas lágrimas, dancei muita música, li muitos livros, respirei vários ares, mas nunca, em nenhum momento, eu consegui ter a chance de dizer à boca de cena "foi fácil".

Nunca é fácil, por mais que tenhamos tudo preparado e meticulosamente pensado, nada flui com ternura. Crescer é pior do que nascer. Nascer visto tudo que já vi e vivi é a coisa mais besta do mundo. Trocar a água morna do útero pro gélido ar ambiente é fichinha.

Tente agora imaginar como é deixar pra trás quem se ama. Várias vezes. Adaptar-se não ao ar, mas à situações. Dinheiro, prazeres, ídolos, religião, ideologias, emprego, sonhos, mudanças. Inúmeras mudanças. Sempre mudanças.

Quem disse que mudanças são boas deve ser um cretino. Mundanças nunca são boas. Suas consequências podem ser, mas elas em si e por elas não são. Não sou pessimista, devo ser até muito otimista. Ainda acredito em muitas coisas.

Talvez por isso essas mudanças em minha vida não estão sendo fáceis. Ser alvo da pilhéria daqueles que são o que um dia eu já fui dói mais que o pretendido. E minhas lágrimas? Secaram. Secaram pois o que eu vi depois disso foi tão maior e tão mais bonito que me nego a sentir o que eu possa sentir.

Já estendeu a mão a um cãozinho sem dono? Já deu o lugar de livre e espontânea vontade a um senhor de idade? Já ensinou uma criança a sonhar? Já fez feliz uma caixa de supermercado por simplesmente entender que ela não é pior do que você simplesmente por trabalhar ali? Não? Eu já.

São tão simples certas coisas e teimamos em torná-las maiores do que realmentes são. Essa é a verdadeira labuta do homem. Perceber que a simplicidade é mais difícil do que a paz mundial.

Como dizia um cara inteligente: "complicado é ser simples, é simples ser complicado".

Eu percebi que meus sonhos são simples. Eu sou simples.
Eu sou feliz.
E você?

terça-feira, fevereiro 27, 2007

O frio relativo

Vi isso numa comunidade do orkut, li, gostei, copiei e colei:


"O frio relativo
35ºC ou mais

-Cuiabanos vão aos parques, trabalham, estudam e vivem normalmente.
-Cariocas vão a praia e jogam futebol.
-Mineiros comem um feijão tropeiro.
-Paulistas estão no litoral e enfrentam 2 horas de fila nas padarias e supermercados da região.
-Curitibanos esgotam os estoques de protetor solar e isotônicos da cidade.

25ºC

-Cuiabanos não deixam os filhos saírem ao vento após as 17 horas.
-Cariocas vão à praia mas não entram na água.
-Mineiros comem um "queijin" na sombra.
-Paulistas fazem churrasco nas suas casas do litoral e ainda entram na água.
-Curitibanos reclamam do calor e não fazem esforço devido esgotamento físico.

20ºC

-Cuiabanos mudam os chuveiros para a posição "Inverno" e ligam o ar quente das casas e veículos.
-Cariocas vestem um moletom.
-Mineiros bebem pinga perto do fogão a lenha.
-Paulistas decidem deixar o litoral, começa o trânsito de volta para casa.
-Curitibanos tomam sol no parque.

15ºC

-Cuiabanos tremem incontrolavelmente de frio.
-Cariocas se reúnem para comer fondue de queijo.
-Mineiros continuam bebendo pinga perto do fogão a lenha.
-Paulistas ainda estão presos nos congestionamentos na volta do litoral.
-Curitibanos ainda dirigem com os vidros abaixado.

10ºC

-Decretado estado de calamidade em Mato Grosso.
-Cariocas usam sobretudo, cuecas de lã, luvas e toucas.
-Mineiros continuam bebendo pinga e colocam mais lenha no fogão.
-Paulistas agora estão presos nos congestionamentos na cidade de São Paulo da volta do litoral.
-Curitibanos botam uma camisa de manga comprida.

5ºC

-Cuiabá entra no armagedon.
-César Maia lança a candidatura do Rio para as olimpíadas de inverno.
-Mineiros continuam bebendo pinga e quentão ao lado do fogão a lenha, que já se assemelha a uma fogueira de São João.
-Paulistas vão a pizzarias e shopping centers com a família.
-Curitibanos fecham as janelas de casa.


0°C

-Não existe mais vida EM CUIABÁ.
-No Rio, César Maia veste 7 casacos e lança o "Ixxnoubórdi in Rio".
-Mineiros entram em coma alcoólico ao lado do fogão a lenha.
-Paulistas vão para Campos do Jordão e enfrentam 2 horas de fila para sentarem em restaurantes e barzinhos.
-Curitibanos fazem um churrasco no pátio... antes que esfrie."

domingo, fevereiro 25, 2007

Nem parece despedida

Hoje eu acordei e percebi que se não for o último dia nessa cidade será o penúltimo.

Ontem eu já revi amigas de infância, e nem parecia despedida. Hoje, a mesma coisa aconteceu. Amigos de anos a fio continuam amigos, e isso é o que importa. Algumas coisas mudaram desde o meu primeiro bota-fora, quando fui para Curitiba, com malas e sonhos. Desta vez não parece muita coisa, parece uma viagem sem adeus ou até mais, uma curta viagem de fériias sem muitos desejos ou medos.

Eu tentei nunca me apegar num lugar só, minha família sempre mudou de casa periodicamente, não por nenhuma razão absurda, mas sempre queríamos uma casa maior e melhor, mas quando a situação apertava, voltávamos a morar em casas menores. Talvez por isso a sensação de lar físico nunca tenha existido para mim. Até agora. Desisto e confesso que boa parte da minha essência está aqui, não adianta negar.

Mas o que me faz pensar também é que Curitiba também se tornou meu lar, com suas ruas e pessoas. O ar que cheirava a pinho, os ônibus sempre iguais, os sorrisos sempre presentes, todos sempre na mesma direção e em rumos opostos. Sinto que de vez em quando meu coração se parte pelas pessoas que deixei lá. O que não aconteceu com meus amigos daqui. Talvez porque quando saí daqui pela primeira vez eu era demais jovem pra saber discernir as coisas, talvez por isso a primeira despedida sempre é a mais cruel.

Nessa nova etapa, ainda existe o medo do fracasso, da solidão e de qualquer outra coisa ruim que possa acontecer, mas não é tão grande, e o mesmo vale para os sonhos. Seria isso a sabedoria de envelhecer? Nada é tão cruel quanto antes? Nenhuma despedida é tão grande? Nem mesmo a morte? O que esperar dos sonhos quando os sonhos não parecem tão inatingíveis quanto antes?

É justamente a essas questões que devo reponder em futuros posts...