domingo, junho 17, 2007

gafes jornalísticas

Certo, recebi isso, como jornalista me senti ofendida, como leitora eu ri horrores:

"A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a
cada ano."
- Jornal do Brasil

"Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente."
- O GLOBO

"Os sete artistas compõem um trio de talento."
- EXTRA

"A vítima foi estrangulada a golpes de facão."
- O DIA

"Os nossos leitores nos desculparão por esse erro indesculpável."
- O GLOBO

"No corredor do hospital psiquiátrico os doentes corriam como loucos..."
- O DIA

"Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva."
-JORNAL DO BRASIL

"Parece que ela foi morta pelo seu assassino."
-EXTRA

"Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça."
- O DIA

"O acidente foi no triste e célebre Retângulo das Bermudas."
- EXTRA

"O tribunal, após breve deliberação, foi condenado a um mês de prisão."
- O DIA.

"O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou."
- O DIA

"A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço."
- EXTRA

"Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes."
- JORNAL DO BRASIL

"Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens."
- O GLOBO

"O aumento do desemprego foi de 0% em novembro."
- O IMPARCIAL

"O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos."
- JORNAL DA TARDE

"Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio."
- FOLHA DE SÃO PAULO

"Na chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel."
- O DIA

"O cadáver foi encontrado morto dentro do carro."
- DIÁRIO POPULAR

"Prefeito de interior vai dormir bem, e acorda morto."
- O IMPARCIAL

sexta-feira, junho 15, 2007

Meu mundo

Gostaria de lhes apresentar o meu mundo. Um mundo não tão diferente do seu. Apenas com peculiaridades que não existem no seu modo de ver as coisas. No meu mundo as pessoas não falam, elas transmitem. No meu mundo não há olhos, há absorção. No meu mundo os cãezinhos são reis e os homens escravos. Nada no meu mundo é cinza, tudo é preto e branco.

Se o coração se quebra, luzes de emergência saltam dos olhos. Se a alma se inunda de alegria os lábios se tornam vírus e se propagam por aí. Se a saudade ou o tédio é grande, o dia é curto, se uma pessao está contagiada com felicidade o dia demora pra passar.

No meu mundo as coisas são relativamente simples. As pessoas que complicam são ignoradas e mantidas numa caixinha fosca do lado das contas a pagar. Sempre acessível mas nunca imprescindível. Pessoas com sonhos transitam mais pelo meu mundo.

Quando chove, a chuva é cascata de novos sonhos, quando faz sol a luz é fonte de novas metáforas boas pra digestão. Quando venta, o ar é responsável pela propagação da música. Quanto anoitece, a escuridão é fonte de amores eternos.

O trânsito é meio de enrolar no caminho. A solidão é solução pra sonhar mais. No meu mundo, a jaca nasce no chão e a cegonha não traz bebês, mas sim almas. (Bebês são feitos com sexo, mas a alma de sonhador vem apenas com a cegonha).

No meu mundo, a tristeza não é algo ruim, é apenas uma pedrinha no sapato. Basta descalçar e jogar fora. No meu mundo, você não está lendo este texto, você está reescrevendo-o com idéias. No meu mundo, eu não sou rainha, mas também não sou escrava. Aqui, não troco meu reino por um cavalo, aliás não troco por nada fora do meu infinito alcance.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao meu mundo. O único lugar do seu mundo em que não escrevo palavras, mas forneço vida ao silício.









[este texto foi publicado originalmente em literar.org e está sob essa licença de creative commmons: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt]

quinta-feira, junho 14, 2007

Banalização da liberdade na Internet

Creio que alguns de vcs já tenham ouvido falar do projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Aos que ainda não ouviram eis uma explicação simplificada do projeto arbitrário do senador:
O projeto da Lei Digital propõe "tipificar condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, de rede de computadores, ou que sejam praticadas contra rede de computadores, dispositivos de comunicação ou sistemas informatizados e similares", ou seja, propõe uma série de alterações (chamadas tipificações penais) em artigos do Código Penal e de outros códigos e atos normativos para combater os crimes praticados com a ajuda da informática e na Internet. Apesar da ênfase que a divulgação do projeto dá às tipificações de crimes como o roubo de senhas, a difusão de vírus, a falsificação de celular e de cartão de crédito, a Lei Digital cria formas de controle no acesso às informações que afetam a vida de todas as pessoas. Por exemplo, a Lei Digital dá amparo legal para que profissionais ou empresas de segurança da informação façam a interceptação de dados ou mesmo invadam outras redes em nome da legítima defesa. Além disso, os provedores de internet seriam obrigados a armazenar os dados de usuárias/os (os chamados logs, que identificam o usuário/a e seu histórico de navegação), disponibilizar estes dados às autoridades quando houver ordem judicial, além de denunciar à polícia indícios de crimes praticados pelos usuários/as, fazendo dos provedores uma espécie de polícia. Veja um trecho do que é considerado crime:

Art. 154-A. Acessar rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular, quando exigida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem, permite, facilita ou fornece a terceiro meio não autorizado de acesso a rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado.
§ 2º Somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos, agências, fundações, autarquias, empresas públicas ou sociedade de economia mista e suas subsidiárias.
§ 3º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se vale de nome falso ou da utilização de identidade de terceiros para a prática de acesso.
§ 4º Não há crime quando o agente acessa a título de defesa digital, excetuado o desvio de finalidade ou o excesso.


Ou seja, o projeto claramente delimita a liberdade e exclui o anonimato, exigindo uma autorização para usufruir da rede. Criaria uma situação de caos fascista sobre cidadãos comuns. Porquê? Porque geraria uma necessidade de vigilância sobre todos os pacotes da rede, caso contrário qualquer pessoa imune ao processo poderia ser tipificada como criminoso.

O que não se fala no projeto é que o mesmo contribui para, por exemplo, paralisar pacotes de voz sobre ip, invadir os computadores das pessoas com mecanismos de DRM, barrar a liberdade de navegação das pessoas com bloqueios indevidos de rede, identificar os internautas, sem sua autorização, para vigiá-lo e conhecer suas práticas de navegação na rede, invadir a caixa de e-mails alheios, etc. Tudo garantido como legítima defesa.

A grande questão acerca disso tudo é que a rede sempre foi baseada em três pontos básicos: liberdade, anonimato e troca. O projeto do senador tipifica como crime dois desses pontos e possibilita o fim do terceiro. Não sei como é viver em um regime autoritário. Sou jovem demais pra conhecer na pele esse sistema no Brasil. Mas por tudo que sei, definitivamente não quero perder a minha liberdade. Não sou terrorista por baixar mp3. Não sou vilã por ser anônima. Não sou perigosa por poder escolher quais sites vou visitar. E vc?


Aqui está o link para a petição ao senado federal pela transparência do projeto.

http://www.safernet.org.br/petitioner/projeto_lei_azeredo/index.html