sexta-feira, junho 15, 2007

Meu mundo

Gostaria de lhes apresentar o meu mundo. Um mundo não tão diferente do seu. Apenas com peculiaridades que não existem no seu modo de ver as coisas. No meu mundo as pessoas não falam, elas transmitem. No meu mundo não há olhos, há absorção. No meu mundo os cãezinhos são reis e os homens escravos. Nada no meu mundo é cinza, tudo é preto e branco.

Se o coração se quebra, luzes de emergência saltam dos olhos. Se a alma se inunda de alegria os lábios se tornam vírus e se propagam por aí. Se a saudade ou o tédio é grande, o dia é curto, se uma pessao está contagiada com felicidade o dia demora pra passar.

No meu mundo as coisas são relativamente simples. As pessoas que complicam são ignoradas e mantidas numa caixinha fosca do lado das contas a pagar. Sempre acessível mas nunca imprescindível. Pessoas com sonhos transitam mais pelo meu mundo.

Quando chove, a chuva é cascata de novos sonhos, quando faz sol a luz é fonte de novas metáforas boas pra digestão. Quando venta, o ar é responsável pela propagação da música. Quanto anoitece, a escuridão é fonte de amores eternos.

O trânsito é meio de enrolar no caminho. A solidão é solução pra sonhar mais. No meu mundo, a jaca nasce no chão e a cegonha não traz bebês, mas sim almas. (Bebês são feitos com sexo, mas a alma de sonhador vem apenas com a cegonha).

No meu mundo, a tristeza não é algo ruim, é apenas uma pedrinha no sapato. Basta descalçar e jogar fora. No meu mundo, você não está lendo este texto, você está reescrevendo-o com idéias. No meu mundo, eu não sou rainha, mas também não sou escrava. Aqui, não troco meu reino por um cavalo, aliás não troco por nada fora do meu infinito alcance.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao meu mundo. O único lugar do seu mundo em que não escrevo palavras, mas forneço vida ao silício.









[este texto foi publicado originalmente em literar.org e está sob essa licença de creative commmons: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt]